POMPEIA - 100 anos para reflexão

Durante o mês de julho de 2013, o jornal Pioneiro de Caxias do Sul, em matérias assinadas por Eliane de Brum, narrou parte da história do centenário hospital.

Dessa narrativa colhemos um dado relevante e que preocupa principalmente aqueles que se dedicam, seriamente, ao serviço da medicina. Seriamente porque muitos que se dedicam ao serviço da medicina, em verdade, mais se prestam na representação da indústria farmacêutica ou da indústria cirúrgica que arrasta a primeira.

E a culpa não é do Hospital Pompéia e nem da expressiva maioria de seus zelosos profissionais, mas reflexo de uma cultura que permeia a sociedade, principalmente nos últimos 30 anos.

Relatou aquela jornalista, dia 18 de Julho, a rotina do bloco cirúrgico, o qual realiza em torno de 1.200 cirurgias por mês.

Imaginemos que os outros hospitais de Caxias do Sul (Unimed, Geral, Circulo Operário e Fatima) realizem em torno de 400 cirurgias por mês (em números modestos, é claro).

Ao final de 20 anos (período muito curto da história), toda a população de Caxias do Sul (500 mil em números redondos), teria passado por alguma cirurgia.

Chama a atenção dois aspectos: ou o Município tem muita gente doente (e aí falha a medicina preventiva) ou existe cultura de cirurgias (a maioria delas desnecessárias, mas realizadas porque movimentam a economia).

Ficando na segunda hipótese – cirurgias desnecessárias – nossa Clinica constatou exaustivamente que isso é corriqueiro, seja porque os diagnósticos são mal elaborados ou porque os atores envolvidos nesses procedimentos cirúrgicos (hospital, laboratórios, médicos, anestesistas e fisioterapeutas) ganham, e muito, com isso.

São frequentes os casos de pessoas que fizeram duas ou mais cirurgias para varizes, sem qualquer resultado; retirada de vesículas (ao invés de só extrair os cálculos biliares) com inegável efeito colateral, a médio prazo, para o funcionamento do intestino, estômago, bexiga e pulmão; ou as cirurgias oftalmológicas, as quais deixam o paciente nas mesmas condições de antes, quando não apresentam mais prejuízo à visibilidade.

Essas razões são algumas justificativas do acirrado debate nacional acerca da legislação que trata do ato médico, votada pelo Congresso Nacional, mas parcialmente vetada pela Presidente da República, justamente porque conferir exclusividade aos médicos para diagnóstico e tratamento leva muitas vezes para a falta de reflexão e de critica sobre a necessidade ou não de alguns procedimentos cirúrgicos ou medicamentosos.

A ciência não sobrevive em cima de crenças ou de grupos de opinião  mas da teoria à prática e desta para novas teorias.